A cidade

Belém, capital do estado do Pará, é uma cidade de grande relevância histórica, cultural e econômica na região Norte do Brasil. Sua infraestrutura aeroportuária é representada pelo Aeroporto Internacional de Belém – Val-de-Cans, que opera voos nacionais e internacionais, sendo um dos principais portões de entrada da Amazônia. O turismo na cidade é impulsionado por atrativo naturais localizados na parte insular da cidade composta por 39 ilhas e nas unidades de conservação, a exemplo do Parque Estadual do Utinga e na Área de Proteção Ambiental da Ilha do Combu, oportunizando o contato direto com a rica biodiversidade amazônica. No aspecto cultural, destaca-se o complexo Feliz Lusitânia, onde estão localizados o Forte do Presépio, a Catedral da Sé o Museu de Arte Sacra e a Casa das Onze Janelas. Nas adjacências, a feira do Ver-o-Peso, uma das âncoras do abastecimento dos produtos gastronômicos regionais.

Aliás, a gastronomia é um dos diferencias da cidade de Belém. Cidade Criativa da UNESCO, nesse segmento, a capital do estado do Pará abriga um patrimônio imaterial construído a partir de produtos e hábitos alimentares de povos originários ancestrais. A planta mandioca, por exemplo, foi domesticada na Amazônia acerca de sete milênios. Posteriormente, a contribuição africana e portuguesa, além dos migrantes, deu os contornos da cozinha amazônica contemporânea.

Nesse contexto, a cidade de Belém é um laboratório a céu aberto para compreensão do processo de formação da gastronomia regional. A percepção das contingências territoriais e históricas e suas repercussões na constituição da culinária são pautas de reflexão no decorrer das sessões de trabalho do SIGA 2025. Uma inspiração para discutir o caráter regional da comida mundial e a questão da sustentabilidade como eixo para construção de sistemas alimentares comprometidos com o futuro do planeta.

Claude Fischler

Nascido em 1947, é um cientista social francês com foco em pesquisa sobre alimentação e nutrição e forte inclinação interdisciplinar. Pesquisador sênior emérito do CNRS, o Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, ele é fundador e ex-diretor do Instituto de Antropologia Contemporânea de Paris. Ele obteve seu doutorado em sociologia sob a orientação do renomado sociólogo e filósofo francês Edgar Morin. Membro de sua equipe na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, em Paris, colaborou na obra clássica de Morin, “La rumeur d’Orléans” (1970), participou ou liderou vários estudos sociológicos de grande escala, por exemplo, sobre o uso e a crença na astrologia nas sociedades contemporâneas (La croyance astrologique moderne, 1981); sobre o planejamento e desenvolvimento urbano-industrial e o surgimento do movimento ecológico (1972-1976). Já na década de 1970, Fischler percebeu que a alimentação havia sido negligenciada e pouco estudada pelas ciências sociais. Ele começou a desenvolver uma abordagem unificadora de “antropologia fundamental”, ou seja, uma pesquisa que tentava integrar tanto a unidade quanto a diversidade da relação humana com a alimentação, nas dimensões social, cultural e biológica. Ele desenvolveu abordagens interdisciplinares para as culturas alimentares e sua evolução, para o comportamento alimentar, para as percepções médicas e leigas sobre a relação entre alimentação e saúde e para a percepção dos riscos associados à alimentação. Após seu livro de 1990, “L’Homnivore”, uma síntese sobre alimentação e nutrição que tentava reunir conhecimentos e questões das ciências sociais e outras (na época, uma novidade, ainda em circulação e, de acordo com sua entrada na Wikipedia, “um clássico”), Fischler desenvolveu estudos comparativos interculturais sobre visões coletivas da alimentação e da saúde em países europeus e ocidentais. Os resultados revelaram diferenças consideráveis nos padrões e atitudes alimentares, correspondendo a variações significativas na prevalência de doenças não transmissíveis e obesidade. Fischler também contribuiu para o campo do bem-estar e da felicidade, em colaboração com Daniel Kahneman e sua equipe, novamente numa perspectiva comparativa transnacional. Seu foco recente e atual é em sistemas alimentares sustentáveis e na antropologia da comensalidade (compartilhar alimentos, comer juntos – ou não) e num projeto comparativo multinacional sobre o que é percebido como tradicional ou moderno na alimentação entre culturas. Fischler também publicou, entre outros trabalhos, um livro sobre vinho (Du Vin) e editou « Selective Eating: The Rise, Meaning and Sense of « Personal Dietary Requirements » ». Fez parte de vários comitês e conselhos nacionais e europeus, incluindo o Programa Nacional Francês para Nutrição e Saúde (PNNS), a Agência Europeia para a Segurança dos Alimentos e o conselho de sua contraparte francesa.

Denise Oliveira

Denise Oliveira e Silva é vice-diretora da Fiocruz Brasília e pesquisadora em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Possui Mestrado em Ciência da Alimentação pela Universidade de Gand, Bélgica (1992), Mestrado em Ciências da Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz (1995), Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (2000) e Pós-doutorado em Antropologia da Alimentação pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, França (2012). Atuou na formulação da Política Nacional de Alimentação e Nutrição, da Política de Saúde da População Negra, da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional e do SISVAN no Ministério da Saúde. Foi diretora da Fiocruz Brasília e assessora do CONSEA. Coordena o Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura da Fiocruz Brasília, o Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA) e a Revista de Alimentação e Cultura das Américas (RACA). Atua como docente em programas de pós-graduação.

Gabriel Sola

Gabriel Sola, Produtor Rural e Secretário de Agricultura de Atibaia-SP desde 2021, ocupou interinamente a Secretaria de Desenvolvimento Econômico em 2022 e esteve afrente da Coordenadoria Municipal de Emprego e Renda de Atibaia de 2019 a 2020. Foi Membro eleito do Conselho Municipal da Juventude no biênio de 2014/2016. Especialista em Agronegócio pela USP/ESALQ, formado em Direito pela Universidade São Francisco de Bragança Paulista e graduando em Engenharia Agronômica pela Universidade São Francisco de Itatiba. Entre suas principais realizações, destacam-se: As politicas públicas de fortalecimento a agricultura local e a preservação do Meio Ambiente. Idealizador de eventos como X Simpósio Nacional do Morango, 1o e 2o Encontro sobre Abelhas Sem Ferrão e 8o Expo Ovinos.

José Seixas Lourenço

Doutor em Engenharia Geofísica pela Universidade da Califórnia - Berkeley. Foi Diretor do Museu Emilio Goeldi (1982/1985). Reitor da Universidade Federal do Pará-UFPA (1985/1989). Foi o primeiro Reitor Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA (2009/2013). Foi Diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA (1992/1995). Secretário de Coordenação dos Assuntos da Amazônia Legal do Ministério do Meio Ambiente. Por dez anos (1987-1997) foi Presidente da Associação de Universidades Amazônicas (UNAMAZ). Desde 2017, é Diretor-Presidente da Associação BioTec-Amazônia.

Marcos Antônio Lemos Miguel

Biólogo de Formação (Universidade Gama Filho) e Doutor em Ciência de Alimentos pela UFRJ. Professor do Instituto de Microbiologia da UFRJ, onde coordena o Laboratório de Microbiologia de Alimentos. Participou da Diretoria da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos (Filial do Rio de Janeiro). Participa ativamente como consultor e em reportagens sobre segurança de Alimentos em canais de TV. Foi consultor e co-presentador do programa Santa Ajuda - do canal de TV a cabo GNT.

Per Olof Berg

Professor Emérito de Marketing na Universidade de Estocolmo, e anteriormente Diretor Executivo da Escola de Empreendedorismo de Estocolmo e Professor de Gestão Estratégica na Copenhagen Business School. Berg foi presidente da Academia Sueca de Artes Culinárias e Ciências Alimentares 2022-24 e presidente da Conferência de Gastronomia de Estocolmo 2023. Ele foi responsável pelo programa de pesquisa Stockholm Program of Place Branding (STOPP) e um dos iniciadores da International Place Branding Association (IPBA). Uma de suas linhas de pesquisa tem se concentrado em place branding e desenvolvimento regional, por exemplo, "Branding Chinese mega cities" (Berg, P.O. e Björner, E. 2014) e "City branding" (Lucarelli, A. e Berg, P. O. 2011), bem como nos elementos sensoriais e afetivos na marca de lugares por meio da comida e da gastronomia (Berg PO, Sevón G 2014). Sua pesquisa atual se concentra no desenvolvimento de destinos gastronômicos de uma perspectiva estratégica.

Paulo Machado

Paulo Machado é plural. É mestre em hospitalidade, chef do Instituto Paulo Machado, apresentador de TV do canal Modo Viagem da Rede Globo e colunista de gastronomia da CBN, além de ministrar aulas sobre gastronomia pelo Brasil e pelo mundo. Desde 2013, ele realiza Food Safaris, expedições gastronômicas que promovem profunda imersão na cultura alimentar das regiões por que passa. No currículo de Paulo ainda estão estudos e períodos de trabalho em restaurantes da Europa e do Brasil, onde assina o menu dos passeios: Recanto Ecológico Rio da Prata e Estância Mimosa na região de Bonito, um dos principais destinos do ecoturismo no mundo. Já promoveu Festivais de Cozinha Brasileira em mais de 15 países com destaque para: Tailândia, Quênia, Itália, Peru, China, Singapura e Japão. Em 2015, o cozinheiro e pesquisador recebeu o Prêmio Dólmã de melhor chef de cozinha na categoria nacional e, em 2018, ganhou o concurso do programa Fantástico com o melhor estrogonofe do Brasil, feito com carne de jacaré. Coidealizador da Rota Gastronômica Pantaneira, promove o Pantanal nas maiores feiras de Turismo do mundo. Em 2019 recebeu o Colar do Mérito Pantaneiro, do governo de Mato Grosso do Sul, e a comenda no grau de Cavaleiro da Ordem do Rio Branco, do governo federal brasileiro por seu trabalho como embaixador das cozinhas: pantaneira e brasileira, respectivamente. Atualmente reside em Barcelona, ponto de partida para suas expedições gastronômicas pelo planeta.

Rafael Ansón Oliart

Presidente da Real Academia de Gastronomia da Espanha por 40 anos, atualmente é Presidente da Academia Ibero-Americana de Gastronomia, Presidente Honorário da Academia Internacional e Co-Presidente da Comunidade Europeia da Nova Gastronomia. Colaborou com instituições de ensino como professor, assessor e diretor de projetos, como a Cátedra de Gastronomia da Universidade Alfonso X el Sabio, o Código de Ética para Profissionais da Gastronomia da Universidade Francisco de Vitoria e o projeto IE Gastronomia do Instituto de Empresa. Fundador e Secretário-Geral da Fundação Espanhola de Nutrição, dedicou anos à promoção de uma alimentação saudável, solidária, sustentável e satisfatória (a Nova Gastronomia dos “quatro S”). É autor e coautor de diversos livros sobre gastronomia, como “La Cocina de la Libertad”, “La comida saludable” e “Los cocineros del vino”. Mantém presença constante em eventos e na mídia. Grande parte de sua trajetória profissional foi dedicada à área de comunicação e consultoria política, tendo sido Diretor-Geral da RTVE durante a Transição e assessor do presidente Adolfo Suárez.

Renata Cabrera

Renata Cabrera é pesquisadora alimentar, autora do livro Do Campo à Mesa – Como Criar Seu Próprio Roteiro de Turismo Gastronômico e ex-secretária de Cultura e Turismo de Jarinu (SP). Com mais de uma década de experiência em sistemas alimentares agroecológicos e turismo sustentável, desenvolveu projetos que conectam cultura, território e gastronomia, valorizando a sociobiodiversidade brasileira. Sua obra convida viajantes a se tornarem curadores de suas próprias experiências, promovendo roteiros autênticos que respeitam saberes locais e fomentam a economia criativa.

Sidiana Macedo

Sidiana da Consolação Ferreira de Macêdo. Professora Adjunta da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará do Campus de Ananindeua. É mestre em História Social da Amazônia, autora do livro "Do que se come: uma história do abastecimento e da alimentação em Belém (1850-1900). É doutora em História Social da Amazônia, pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia da Universidade Federal do Pará. Com a tese intitulada "A cozinha mestiça. Uma história da alimentação em Belém. (Fins do século XIX a meados do século XX). É professora credenciada no Mestrado profissional de História (Profhistória). É professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia- PPHIST. É historiadora da alimentação, líder do grupo de pesquisa Alere-Grupo de Pesquisa da História do Abastecimento e da Alimentação na Amazônia grupo cadastrado e certificado na Plataforma de Grupos de Pesquisa do CNPq.É pesquisadora colaboradora da rede Transnacional DIAITA- Património Alimentar da Lusofonia. É líder do Grupo de Pesquisa GHAIA (Grupo de História Alimentação na Ibero- América). Autora do blog @daquiloquesecome. É sócia-efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, cadeira de número 36, cujo patrono é Raymundo Cyriaco de Alves.É membro do Conselho Editorial de Revistas Científicas como a Revista Brasileira de Gastronomia RBG e a Revista Mangút: Conexões gastronomicas (UFRJ- INJC).É colaboradora do Instituto Histórico e Genealógico de Campinas.

Telma Shiraishi

Nascida em São Paulo, mas criada no interior, Telma Shiraishi largou a faculdade de medicina da USP por sentir falta de desenvolver seu lado mais artístico em múltiplos interesses, como flores, arte e animais. Na época, auge dos anos 90, Telma foi trabalhar como assistente do estilista Fause Haten e, com o tempo, começou a participar também das criações de coleções. Por fim, deixou também a moda e, aos poucos, foi migrando para a cozinha – pela qual realmente sentia paixão. Começou a fazer jantares e coquetéis para amigos e eventos, até abrir o Aizomê. O conjunto da obra rendeu à chef, que também está à frente da cozinha do Consulado do Japão em São Paulo, o título de Embaixadora para Difusão da Cultura e Culinária Japonesa, concedido pelo governo japonês. Telma é a primeira profissional brasileira e uma das raras mulheres no mundo a receber a honraria. O reconhecimento de seu trabalho também rende prêmios da mídia especializada. Sob sua batuta, o Aizomê foi eleito, por três anos consecutivos, melhor restaurante japonês pelo Melhor de São Paulo, guia especial do jornal Folha de S. Paulo, e a própria Telma escolhida como chef do ano de 2019 pelo mesmo júri – aqui também, a primeira mulher da história do veículo a carregar o título. Em 2021, a chef foi finalista no Latin America’s 50 Best Restaurants 2021, na categoria Estrella Damm Chefs' Choice Award - Best Reinvention, por ter concretizado um novo Aizomê na Japan House São Paulo e por encabeçar o projeto social Água no Feijão, que já distribuiu mais de 250.000 marmitas desde a quarentena de 2020. Telma também foi eleita a melhor profissional de cozinha japonesa na premiação Melhores da Gastronomia da revista Prazeres da Mesa em 2022 e novamente em 2024. O nome da categoria inclusive precisou mudar quando Telma conquistou o prêmio pela primeira vez – antes chamava-se “melhor sushiman”. Atualmente a chef se dedica a explorar o tema de uma culinária nipo-brasileira, resgatando as histórias, os sabores e as adaptações de receitas e ingredientes que se fizeram necessárias nas várias regiões brasileiras que receberam as comunidades de imigrantes japoneses. O objetivo é registrar e valorizar o encontro das duas culturas, resultando em algo único e rico na diversidade e nos sabores, juntando o melhor do Brasil e do Japão.